Alô, gente. Tudo bem com vocês?
A gente ainda tá no mês do Orgulho LGBT.
E eu tive a felicidade de participar da campanha do Bradesco desse ano junto com o Murilo, Luca e Preta, que a gente gravou à distância, cada um na sua casa.
Essa campanha faz parte do Aliados Pelo Respeito.
Um projeto que começou dentro do Bradesco, pra levantar debates com os funcionários sobre gênero, raça, deficiências e vivências LGBT.
Esse é um mês do Orgulho LGBT muito atípico, e um momento difícil pra todo mundo.
A gente não pode sair na rua pra celebrar a nossa existência, nem pra se organizar coletivamente contra a LGBTfobia.
E por isso, é ainda mais importante a gente compartilhar as nossas vivências.
E fortalecer as nossas redes de apoio.
Por esse motivo, eu tô aqui, a convite do Bradesco, pra falar um pouco sobre a compreensão da minha sexualidade.
Sobre a construção da minha auto imagem, da minha autoestima.
E principalmente, pra falar sobre empoderamento.
Essa palavra já foi empregada tantas vezes, em tantos contextos diferentes.
Que eu não sei mais o que a gente entende por empoderamento.
E isso acontece com vários conceitos.
Muitas vezes os significados desses conceitos são esvaziados pela forma como eles são utilizados.
Inclusive, na internet.
Ou porque são apropriados pela mídia e pelo mercado.
E aí, o seu sentido se torna muito mais comercial do que transformador.
Enfim, vamos falar um pouco sobre tudo isso.
Então pega seu chá, seu café ou sua água e senta aí pra gente conversar.
[ronronar]
Desde que eu comecei a compartilhar parte da minha vivência na internet, muitas pessoas me perguntam quando que eu percebi que eu era diferente.
Mas a verdade é que eu nunca me senti igual.
Essa daqui sou eu com três anos.
E aqui, eu acho que eu tinha cinco.
Eu nasci em 1191, então isso daqui ainda era na década de 90.
Só pra você se situar no tempo.
Na década de 90, e nem depois, na minha adolescência, não se falava tanto sobre bullying, sobre
questões de gênero e sobre sexualidade.
Nem sobre algumas formas de opressão, como a LGBTfobia.
Mas essa começou a ser uma realidade na minha vida assim que eu fui pra escola e o meu círculo social se expandiu.
Nem era, a princípio, uma questão de sexualidade, porque eu era criança.
Eu nem sabia o que era sexualidade, sexo, atração física e romântica.
E nem os meus colegas sabiam, mas eles reproduziam aquilo que eles viam e ouviam.
E "sapatão" passou a ser a palavra usada pra me atingir.
Eu não uma mulher que corresponde aos padrões de feminilidade esperados e impostos pela sociedade.
E eu já não era uma criança que se encaixava nesses estereótipos.
E quando isso acontece, não são apenas apelidos que a gente ouve.
Não são apenas violências diretas.
Existem muitas atitudes e discursos implícitos nas relações sociais, inclusive, que reforçam esses papeis e que, portanto, reforçam também a nossa inadequação.
Eu lembro de ir na locadora... Sim, eu disse que faz tempo!
E lá eu vi um filme, na capa tinha um menino com o cabelo raspado.
E eu queria muito cortar o meu cabelo, então eu fiquei segurando o filme o tempo todo.
Pensando em como que eu ia falar pros meus pais que eu queria raspar o cabelo daquele jeito.
Só que na hora de ir embora, eu larguei o filme e não falei nada.
Eu fui, muitas vezes, silenciada por uma estrutura social que não admite existências não normativas.
E quando eu fui cortar o meu cabelo... Não raspar, eu só fui cortar.
Eu lembro da cabeleireira olhar pra minha mãe muito séria, e perguntar se ela ia mesmo me
deixar fazer aquele corte de homem.
Enfim, eu poderia dar muitos exemplos.
Podia falar da minha vida inteira aqui nesse vídeo.
A questão é que por mais que eu achasse um absurdo dividir o mundo dessa forma, e agredir uma pessoa por qualquer motivo que fosse, eu sentia que que eu era anormal.
E o conceito de anormalidade é terrível!
Ele só existe porque existe uma norma estabelecida.
A gente só se sente diferente, porque existe um modelo que deve ser seguido.
E é desse modelo que a gente se sente diferente.
Tudo isso afetou muito a construção da minha subjetividade, da minha auto imagem e da minha autoestima.
Quando eu vejo pessoas falando sobre amigos antigos, tipo, da época da escola, eu penso:
"Uau, que conceito peculiar".
Porque eu tive uma infância e uma adolescência bem solitária.
Se eu hoje eu falo que eu sou essa senhora, que gosta de ficar em casa bebendo chá e brincando com os meus gatos, talvez seja porque eu me construí dessa forma.
E eu acho que a gente se constrói por meio das relações sociais.
Tanto aquelas que são mais próximas, quanto as relações indiretas.
Tipo, o que a gente assiste na televisão, os livros que a gente lê.
As coisas que a gente vê acontecer ao nosso redor.
E as interações sociais mais distantes, tipo a cabeleireira que não queria cortar meu cabelo.
Da mesma forma que a gente se constrói por meio das relações sociais, eu acho que graças a elas, a gente se desconstrói e se reconstrói também.
No meu caso, por muito tempo, essa troca foi mediada por obras literárias.
Como eu disse, eu nunca fui aquela pessoa que tinha muitos amigos e que interagia muito socialmente, então eu lia bastante.
E eu estudava bastante também!
Hoje eu percebo, inclusive, que ao longo da minha vida, eu vinculei a minha autoestima aos estudos.
Acho que tinha a ver com esse mecanismo de compensação que eu desenvolvi.
A lógica era meio essa...
"Se por natureza, eu já não sou uma boa pessoa, eu vou me esforçar pra ser a melhor filha que eu puder ser, a melhor amiga, a melhor namorada. Enfim, o melhor ser humano".
O que já não significava muita coisa na minha cabeça.
Acreditar que precisa compensar os outros e o mundo inteiro é resultado de uma crença de inferioridade.
E é extremamente cansativo, e a gente acaba se anulando nas relações sociais.
Agora eu consigo perceber, inclusive, que eu estabeleci relações que reforçavam essa crença.
Esse foi um padrão que eu só consegui romper quando a minha auto imagem mudou.
E isso não aconteceu de um dia pro outro. Na verdade, não é um processo que acabou também.
Eu fiz e faço terapia e leituras, por exemplo.
Mas também, principalmente por causa do meu trabalho, eu conheci pessoas que me acolheram, que me receberam com carinho.
Com quem eu dividi as minhas experiências, e com quem eu aprendi sobre vivências que eu não tenho.
Eu tô falando sobre outros criadores de conteúdo, sobre pessoas LGBT que eu conheci ao longo da minha vida.
E tô falando sobre vocês também.
Todas as mensagens que eu recebo, as histórias compartilhadas, as trocas que a gente estabelece mudaram e mudam a minha realidade.
E talvez mudem um pouquinho
da sua realidade também.
Eu acredito que é por meio dessas trocas que o empoderamento acontece.
E por isso ele é um processo contínuo e coletivo.
E não finito e individual, como parece muitas vezes.
O que eu percebo que aconteceu com esse conceito e com vários outros, é que ele passou a ser visto como um sentimento, uma sensação...
E um fenômeno individual.
E se ele é individual, você pode obter sozinha.
E ele vai ser conquistado de formas diferentes pra cada pessoa.
Eu me lembro de muitas situaçõescom amigos gays e cis,
em que eles me falaram coisas do tipo:
"Aproveita que você é mulher e se valoriza".
"Faz uma maquiagem, pinta a unha. Coloca um salto, usa um vestido..."
Talvez esse fosse o sonho daqueles meus amigos, e fazer aquilo seria incrível pra autoestima deles.
Mas não é a mesma coisa pra mim.
Incrível pra mim foi quando eu usei blazer e gravata pela primeira vez.
Ou quando eu passei máquina e raspei a lateral do meu cabelo.
Considerar o empoderamento como um fenômeno pessoal, é ignorar que as pessoas são diferentes e sofrem opressões diferentes.
E se fosse um processo individual, não mudaria as estruturas sociais.
Empoderamento vem de poder.
E ter poder não significa satisfação pessoal, nem mesmo autoestima.
Embora tudo isso seja importante, é óbvio.
A questão é que eu não vou ser uma pessoa LGBT verdadeiramente livre por me olhar no espelho e gostar de mim, se eu vivo numa sociedade que não reconhece e não respeita a minha existência.
Eu não vou ser uma pessoa completamente empoderada
enquanto a população LGBT continuar marginalizada e oprimida.
Se empoderar e reinventar o futuro, é construir uma realidade livre de qualquer forma de opressão, de violência e de desigualdade.
Mais do que nunca, eu acho que é tempo de pensar sobre tudo isso.
Junho tá quase acabando, e a gente não pode perder a noção de coletividade, de resistência e de luta por justiça social.
Obrigada a você que tá aí, que estabelece essa relação de afeto comigo.
E obrigada ao Bradesco, pelo convite pra gravar esse vídeo.
Abracinho em você. Beijo, tchau.
[ronronar]
Ah, legal. Tá passando o carro, o quê? Do ovo.
amolavita
legal.ob
听友228769203
好快啊 感觉像开车开出一百多迈的感觉哈哈哈
懒人葡语
不好意思停更了一段时间,从7月开始会继续更新,请小葡萄一起继续磨耳朵,一起进步❤️