o meu pe de laranja lima 14

2021-11-10 15:31:4705:07 95
声音简介

Quando chegamos na Rio-São Paulo ele riu e falou:

—  Meus filhos.  Estou  com  muita  pressa.  Vocês  estão  atrasando o meu serviço. Agora vocês vão por ali, que não tem perigo algum.

Saiu, apressado, com o maço de cartas e papéis debaixo do braço.

Pensei, revoltado.

— Covarde! Abandonar duas criancinhas na estrada depois de ter prometido

a Glória que levava a gente.

Peguei a mãozinha de Luís com mais força e continuamos a andar. O cansaço começava a se manifestar nele. Cada vez diminuía os passos.

— Vamos, Luís. Está pertinho. Tem muito brinquedo. Ele andava um pouco

mais depressa e voltava a atrasar.

— Zezé, estou cansado.

— Vou carregar você um pedacinho, quer? Ele abriu os braços e o carreguei um pouco. Arre que ele pesava como chumbo. Quando chegamos na Rua do Progresso quem estava bufando era eu.

— Agora você anda mais um pedacinho.

O relógio da igreja bateu oito horas.

— E agora? Era para a gente estar lá às sete e meia. Mas não faz mal, tem muita gente e vai sobrar brinquedo. Tem um caminhão cheio.

— Zezé, meu pé está doendo.  

Abaixei.

— Vou desabotoar um pouco o cordão que melhora.  

Íamos cada vez mais devagar. Parecia que o Mercado não chegava nunca. E depois  ainda  tínhamos  que  passar  a  Escola  Pública  e  virar  à direita  na  Rua  do Cassino Bangu. O pior era o tempo que voava de propósito.

Mortos de cansaço, chegamos lá.  Não havia ninguém.  Nem parecia que houvera distribuição de brinquedo. Mas houvera, sim, porque a rua estava cheia de papel de seda amarrotado. A areia estava toda colorida de papel rasgado.   

Meu coração começou a inquietar-se. Chegamos defronte e se  Coquinho estava fechando as portas do Cassino.

Falei, afogueado, para o porteiro:

— Seu Coquinho, já acabou tudo?

— Tudo, Zezé. Vocês vieram muito tarde. Foi uma enchente.

Fechou meia porta e sorriu com bondade.

—  Não  sobrou  nada.  Nem  para  os  meus sobrinhos. Fechou a porta toda e veio para a rua.

— Ano que vem, vocês precisam vir mais cedo, seus dorminhocos!...

— Não faz mal.  

Bem que fazia. Estava tão triste e decepcionado que preferia morrer a que tivesse acontecido aquilo.

— Vamos sentar ali. A gente precisa descansar um pouco.

— Estou com sede, Zezé.

— Quando a gente passar no seu Rozemberg a gente pede um copo d'água.

Chega pra nós dois.

Só então ele descobriu toda a tragédia. Nem falou. Olhou pra mim, fazendo beicinho e com os olhos boiando.

—  Não  faz  mal,  Luís.  Você  sabe  o  meu cavalinho  Raio  de  Luar?  Eu vou pedir a Totóca mudar o cabo dele e dar de Papai Noel para você.

Mas ele fungou comprido.

— Não, não faça isso. Você é um rei. Papai disse que batizou você de Luís, porque era o nome de rei. E um rei não pode chorar na rua, defronte dos outros, viu?

Encostei a cabeça dele no meu peito e fiquei alisando o seu cabelo encaracolado.

— Quando eu crescer vou comprar um carro bonito como o de seu Manuel Valadares.  Aquele do Português, você se lembra?  Aquele que passou pela gente uma vez na Estação quando a gente estava dando adeus para o Mangaratiba... Pois bem vou comprar um carrão lindo daqueles cheio de presente e só para você... Mas não chore que um rei não chora.

Meu peito explodiu numa mágoa enorme.

— Juro que vou comprar. Nem que tenha de matar e roubar...

Por dentro não era  meu  passarinho  que  comentava  aquilo.  Devia ser o coração.

Só assim mesmo. Por que o Menino Jesus não gosta de mim? Ele gosta até do boi e do burrinho do presépio. Mas de mim, não.

Ele  se  vingava  porque  eu  era  afilhado  do  diabo.  Se  vingava  de  mim, deixando de dar presente ao meu irmão. Mas Luís, não merecia isso, porque era um anjo. Nenhum anjinho do céu podia ser melhor do que ele...   

Aí as lágrimas me desceram covardemente.

— Zezé, você está chorando...

— Passa logo. Mesmo eu não sou um rei, como você. Só sou uma coisa que

não presta pra nada. Um menino muito malvado, bem malvado mesmo... Só isso.

 

他很快地走开,腋下夹着装满信和报纸的邮包。

我感到一阵厌恶。

“卑鄙小人!你答应葛罗莉亚会带我们去的,结果把两个小孩丢在路边!”

我用力地握紧了路易的小手,继续往前走。他开始觉得累了,放慢了脚步。

“加油,路易,快到了。他们有好多玩具哦。”

他稍微加快了脚步,然后又慢了下来。

“泽泽,我累了。”

“我可以抱你走一下,如果你想要的话。”

他伸出双臂,我抱着他走一下。哇!他重得像铅块一样。等我们走到进步街时,我已经气喘如牛了。

“现在你下来走一下吧。”

教堂的钟敲了八点。

“怎么办?我们应该在七点半到那边的。”没关系,会有玩具剩下来的。他们有满满一卡车呢。

“泽泽,我脚痛。”

“我帮你把鞋带放松一点,就不会痛了。”我弯下身。

我们越走越慢,感觉好像永远也走不到市场那边。我们得先经过小学,在班古赌场街右转。最糟的是,时间正在飞逝。

就在我们快要累死的时候,终于走到了!但是附近没有任何人。一开始我以为他们还没有送出任何玩具,但看起来应该是有的,因为包装纸丢得街上到处都是,把沙地点缀得五彩缤纷。

我开始担心了。

我们走到前头,门房柯奇诺先生正在关赌场的大门。

“柯奇诺先生,全都结束了吗?”我问。

“全都结束了,泽泽,你太晚来了。简直是场暴动啊。”

他关上半边的门,和蔼地笑着说:“没有东西剩下来咯。连我侄子都没份。”

他把另一扇门也关上,走到街上来。

“明年你们两个要早点来喔,小懒虫。”

“没关系。”

其实有关系。我好难过、好失望,宁愿马上死掉也不愿意遇到这种事。

“坐下来吧。我们需要休息一下。”

“我渴了,泽泽。”

“等会儿经过罗森堡先生家的时候,可以要一杯水喝。我们两个喝一杯应该就够了。”

到这个时候他才明白悲剧发生了。他看着我不说话,嘴巴嘟了起来,泪水在眼中打转。

“没关系的,路易。你知道我的小马‘月光’吧?我叫托托卡换根竿子,把‘月光’当作圣诞老人送给你的礼物。”

他用力吸吸鼻子。

“不要,别这样嘛。你是国王耶。爸爸说,他给你取了路易这个教名,因为这是国王的名字喔。你知道,国王是不会在街上当着大家的面哭的。”

我把他的头拥入怀中靠紧我胸口,抚摩着他的卷发。

“等我长大,我要买一辆漂亮的汽车,像麦纽?瓦拉达赫先生那种车——就是那个葡萄牙人的车子,你记得吗?有一次我们在车站对着曼哥拉迪巴号挥手的时候,那辆车子有经过……恩,我以后要买一辆漂亮的车子,里面装满了礼物,全都是给你的喔。现在不要哭了,因为国王是不哭的。”

我心痛无比,胸口感觉快要炸开了。

“我发誓我一定会买的。就算是用偷用抢的都要买。”

这句话不是脑袋里的那只小鸟说的,一定是我的心自己说出来的。

只能这样了。为什么圣婴不喜欢我?他甚至连马槽里的母牛和小驴都喜欢,但是他不喜欢我。他对我生气,因为我是魔鬼的教子。他对我生气,因为我没办法拿到礼物给弟弟。不该让路易失望的——因为他是个天使,天堂里的小天使没有一个比得上他。

然后,我很没用地哭了起来。

“泽泽,你哭了……”

 

 “没什么。我不像你是国王,我只是个没有用的东西。我是个坏男生,很坏的男生……就是这样。”

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